
Uma frase de Pedro Silva Pereira, ministro da Presidência, sinalizou ontem, com clareza, que o PS recusa uma sucessão de José Sócrates como primeiro-ministro sem eleições legislativas (o que aconteceu quando Durão deu lugar a Santana Lopes, em 2004).
Comentando, no final do Conselho de Ministros, uma entrevista de António Capucho à Antena 1, onde o dirigente "laranja" e conselheiro de Estado defendeu que o PS deveria indicar uma personalidade para substituir Sócrates na chefia do Governo, Silva Pereira, citado pela Lusa, afirmou: "Que uma das figuras mais destacadas do PSD não queira que Portugal seja governado por este primeiro- -ministro, isso é muito compreensível, mas esses assuntos resolvem-se nas eleições." Acrescentando: "Quanto a saber quem é ou deixa de ser o secretário-geral do PS, é uma coisa que cabe ao PS resolver e, tanto quanto sei, é o PSD que está agora encarregado de resolver o seu problema interno."
O cenário de uma substituição de Sócrates por outra personalidade do PS à frente do Governo começa a ser objecto de especulações no interior do partido. Cresce a convicção de que o líder socialista está em trânsito da condição de solução para a condição de problema. António Costa, Vieira da Silva, Luís Amado, Teixeira dos Santos e também Francisco Assis, líder parlamentar, têm sido alguns dos nomes referidos. Além de António José Seguro, que nunca foi apoiante de José Sócrates.
Quinta-feira à noite, na Quadratura do Círculo (SIC Notícias), António Costa, n.º 2 do PS, desafiou os seus oponentes (Pacheco Pereira, do PSD, e António Lobo Xavier, do CDS) a serem consequentes: "Não estão satisfeitos com o primeiro-ministro? Porque não apresentam uma moção de censura?"
A aprovação de uma moção de censura implica, automaticamente, a demissão do Governo. Mas a demissão do Governo, por sua vez, não implica necessariamente eleições. O Presidente da República poderá tentar um novo Governo do PS (com outro primeiro-ministro) ou encontrar outra solução no Parlamento ou ainda apresentar um Governo de iniciativa presidencial.
Ontem, Pedro Silva Pereira comentou também a edição do Sol. Sublinhou que tanto o procurador-geral da República (PGR) como o presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) concluíram que não havia motivo para dar andamento à a suspeita de "atentado ao Estado de direito". Estas duas instâncias concluíram "não apenas pela inexistência de uma factualidade que pudesse justificar um qualquer procedimento criminal, mas também em relação à inexistência de um plano gizado pelo primeiro-ministro ou pelo Governo no sentido do controlo da comunicação social". Acrescentando, num comentário já à substância das novas escutas ontem divulgadas pelo semanário: "As escutas que foram divulgadas de forma alguma desmentem essas conclusões [do PGR e do presidente do STJ]. Uma coisa são os elementos e as conclusões a que terá chegado um juiz de instrução em Aveiro, outra coisa são os elementos e conclusões a que chegaram os responsáveis pela justiça nas suas mais altas instâncias", sublinhou o ministro da Presidência.
As vozes governamentais multiplicaram-se no controlo de danos. Jorge Lacão (Assuntos Parlamentares) reafirmou a intervenção de Pedro Silva Pereira. E Alberto Martins (Justiça) voltou a sublinhar a importância de separar política e justiça.